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26 maio 2021

Agrotóxicos: história, o que são e dicas de higienização

Também conhecido como agroquímico, seu uso faz nascer uma série debates que envolvem saúde e economia, ao mesmo tempo que fortalece a utilização de alternativas, como os alimentos orgânicos. Entenda.

É preciso discutir e entender o uso dos agrotóxicos (Foto: Getty Images)
Por Daniela Caravaggi

Ali, nas gôndolas do supermercado, nas barracas das feiras ou nos cestos das quitandas te esperam os mais variados legumes, verduras, folhas e frutas. Mas você já se perguntou o caminho que esses alimentos fizeram para chegar até alí? Como foram plantados, semeados, cuidados e, por fim, colhidos? Aqui, vamos colocar o agrotóxico no centro da discussão e, para isso, é preciso entender o contexto e as particularidades de seu uso que, de uns tempos para cá, tem ganhado espaço em rodas de discussão de saúde, nutrição, economia e, claro, política.

A história
Segundo o economista Julio Batista, sócio da GUERRABATISTA Advogados, o início do uso de agrotóxicos aconteceu após a Segunda Guerra Mundial (século XX), com o advento da grande transformação pela Revolução Verde. Visando o aumento da produtividade, vários países, incluindo o Brasil, adotaram produtos agroquímicos com o objetivo de conter pragas, insetos, ervas daninhas e demais doenças das culturas agrícolas que prejudicavam as plantações, principalmente as monoculturas.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil é um dos maiores utilizadores e consumidores de defensivos agrícolas do mundo. “O Brasil é um país de clima tropical, com condições climáticas favoráveis para o cultivo vegetal o ano todo, situação contrária encontrada em países de clima temperado, que possuem as estações do ano bem definidas, passando por invernos rigorosos que inviabilizam o cultivo. Outro ponto em questão é que devemos dividir o volume de agrotóxico consumido pela área cultivada e não pela população. Tal fato explica o ranking dos países que mais consomem agrotóxicos no mundo, em que o Japão ocupa o 1º lugar no ranking e o Brasil a 13ª posição, ficando atrás da Alemanha, Canadá, Reino Unida e EUA”, explica Luan Wakatsuki, engenheiro agrônomo pela Universidade Estadual do Norte do Paraná.

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O que são eles?
O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) classifica os agrotóxicos como produtos químicos, físicos ou biológicos utilizados nos setores de produção agropecuária, com o objetivo de alterar a composição química tanto da flora quanto da fauna, a fim de preservá-las. Sinônimos: defensivo agrícola, agroquímico, produto fitossanitário, etc.

Em linhas gerais, agrotóxicos são substâncias químicas utilizadas em plantações com objetivo de prevenção e proteção desses cultivos. A discussão que permeia o país é: o uso desses produtos é controlado como deveria?

A agricultura brasileira usou 539,9 mil toneladas de pesticidas em 2017, segundo os dados recentes do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). De acordo com relatório do Ministério da Agricultura de 2021, o Brasil aprovou o registro de 493 agrotóxicos em 2020, o maior desde 2000. Em relação ao ano de 2019, por exemplo, o crescimento foi de 4%. Há químicos produzidos fora do país, proibidos em suas origens, e permitidos aqui.

O engenheiro enfatiza que, pensando em agricultura em larga escala, é praticamente impossível hoje produzir de forma eficiente sem a utilização desses químicos. Entretanto, o seu uso excessivo ou incorreto pode resultar em diversos prejuízos ao meio ambiente, como contaminação do solo e dos recursos hídricos, entre outros. Esse cenário, porém, vem mudando e novas possibilidades surgindo.

“Diferentemente do que muitos pensam, a utilização de produtos químicos não é a única ferramenta disponível para o manejo. Vejo que os produtores estão cada vez mais conscientes diante das novas tecnologias disponíveis. A mentalidade vem mudando, até porque o consumidor final está também cada vez mais exigente. É preciso ter essa visão de termos uma agricultura mais sustentável, empregando a técnica certa no momento certo, na dose correta, visando à melhora da qualidade desse solo. Não é sempre que vai precisar do controle químico”, ressalta.

“Em área cultivada, o Brasil não aumentou tanto, mas sua produtividade sim. O que isso significa? Essa nova visão sendo incorporada aos poucos. O MIP, monitoramento integrado de pragas, e a biotecnologia propiciaram isso. Pensando na parte econômica, nosso desafio é produzir mais gastando menos”, completa.

Agrotóxico X Saúde
Apesar de não haver comprovações científicas sobre a relação de consumo de agrotóxicos com problemas de saúde, alguns maus indícios estão sendo observados por profissionais da saúde ao longo dos anos. Segundo a nutricionista Luisa Macedo Nunes, da equipe Jafet Nutrição, do Instituto Insport, hoje já se sabe, por exemplo, que estes defensivos agrícolas e fertilizantes podem afetar e alterar o funcionamento de hormônios, que são substâncias secretadas pelas glândulas do organismo, como a tireóide, a hipófise, supra-renal, ovário, testículo.

Os hormônios são essenciais para o funcionamento do corpo humano e atuam regulando a função de outras células. Isto acontece porque muitas substancias químicas dos agrotóxicos são disruptores endócrinos; sua estrutura imita e mimetiza a dos hormônios.

Ainda de acordo com a nutricionista, essa alteração e desequilíbrio hormonal provocam doenças como o câncer (Linfoma não-Hodkin, câncer da medula óssea ou gânglios, leucemia, câncer de mama, ovário, próstata, testículo); afetam o sistema reprodutor, aumentando infertilidade, disfunção sexual e tireoidiana; causam doenças respiratórias como asma, infecções respiratórias e DPOC; doenças neurológicas (Parkisson, Alzheimer e depressão) e aumentam a toxicidade no fígado.

“As crianças também podem ser afetadas pelo uso do agrotóxico, provocando baixo peso ao nascer, prematuridade, falta de atenção e hiperatividade, autismo. A fase de maior risco para as crianças é quando elas estão na barriga da mãe, pois nesta fase os bebês estão mais expostos e podem levar sequelas para a vida”, explica.

“A intoxicação a longo prazo – o fato de ser exposto a essa substância todos os dias – é um dos fatores mais danosos dos agrotóxicos. É o consumo cumulativo de uma dose diária de veneno. No final, o estrago é muito grande”, completa.

A economia
A discussão sobre o impacto deste manuseio e consumo de agrotóxicos é delicada e importante. Porém, frente a esse problema, há uma realidade econômica do país que não pode ser deixada de lado, como explica o economista Julio Batista. “O Agrobusiness tem fundamental importância no desenvolvimento do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, atualmente alcançando uma participação em mais de 26% do PIB total, bem como no avanço da agricultura digital, que maximiza as operações agrícolas e de logística em todo o seu processo, com vistas ao melhor atendimento da qualidade do produto no mercado consumidor interno e externo”, ressalta.

É inegável que uma produção sem uso de agrotóxicos causa um impacto direto em termos de precificação. A relação é visível nas prateleiras de supermercados quando procuramos esses produtos orgânicos.

A agricultura orgânica é uma das modalidades de cultivo. Caracteriza-se pela produção em baixa escala, áreas pequenas, com maior custo de produção, o que justifica o seu preço mais alto. Mas seria impossível produzir tudo o que produzimos apenas com esse tipo de modalidade, principalmente no cenário em que estamos hoje. E qual seria a solução diante disso?

“Claro que quanto mais perto desses produtores, como em feiras livres, mais baratos serão esses alimentos. O ponto é justamente esse: precisamos de políticas públicas que incentivem essa produção para que isso seja mais barato, mais viável e mais acessível. A produção orgânica já vem se ampliando, mas está longe de ser a nossa realidade hoje. Estamos falando de um modelo de agricultura que incentiva o uso de agrotóxicos, dando a eles, por exemplo, isenção fiscal. A maior parte não paga impostos. A agricultura orgânica e ecológica não recebe a mesma forma de incentivo”, ressalta Rafael Rioja Arantes, analista em regulação do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

Orgânicos e novos hábitos

Frango inteiro da marca Korin, sem uso de transgênicos (Foto: Paulinho de Jesus)

A jornalista e triatleta amadora Julia Guedes repensou seus hábitos de consumo após uma viagem especial a Portugal em 2015. Ao observar alimentos grandes, bonitos e com qualidade saindo direto da horta de sua avó viu que era possível, sim, ter bons produtos sem o uso de químicos.

“Liguei a chavinha de que não precisamos ter agrotóxicos para termos alimentos bons. Vi os melhores alimentos saindo daquela horta, como um morango lindíssimo do tamanho da palma da minha mão. Fui aos poucos me conscientizando e, hoje, procuro sempre manter esse estilo de compras. Fui percebendo como impacta minha vida”, ressalta.

“Precisamos pensar no futuro e como isso vai afetar nossa vida. Digo isso não só me referindo à saúde, mas ao impacto no ambiente. Estamos destruindo aos poucos nossa maior fonte de vida, que é o meio ambiente, e ninguém está prestando atenção nisso. Precisamos consumir cada vez mais orgânicos não pelo fato de ser bonito, mas por termos a consciência do que vai acontecer com o nosso mundo se continuarmos com os mesmos hábitos de sempre”, completa.

Apesar desses hábitos estarem em ascensão nos últimos anos, tomando espaço e consciência na vida das pessoas, o mercado orgânico não é recente. A Korin – empresa que se dedica há quase três décadas à produção e comercialização de produtos orgânicos – foi uma das pioneiras desse setor no país. São linhas orgânicas e sustentáveis de origem animal e vegetal, como frangos, ovos, bovinos e pescados, somando mais de 300 produtos.

Fundada em 1994, a empresa baseia toda a produção na filosofia do pensador japonês Mokiti Okada (1882-1955), que preconizou a Agricultura Natural, método agrícola sustentável que respeita o agricultor, vivifica o solo e não utiliza adubos químicos ou agrotóxicos. Toda a produção é realizada por cooperativas e pequenos e médios produtores, incentivando a agricultura familiar e integrando valores ecológicos e sociais para garantir não apenas a qualidade dos produtos, mas também a qualidade de sua origem.

“Desde o princípio, acreditamos que a alimentação com produtos da Agricultura Natural representa um papel fundamental na construção de uma vida mais saudável e feliz. Além de nutrientes vitais, os alimentos carregam o sentimento de todos aqueles que participaram de sua produção até sua chegada à mesa do consumidor. Acreditamos que esse sentimento gera nas pessoas a verdadeira percepção de algo diferente”, enfatiza Evandro Possamai, diretor de Operações da Korin.

E quem pensa que esses produtos são difíceis de encontrar está enganado. Apesar dessa ideia de distanciamento dos orgânicos, eles estão à disposição nos principais mercados do país. Hoje, essa marca, por exemplo, pode ser encontrada em todos os estados do Brasil em aproximadamente 1.400 pontos de venda.

Como reduzir o consumo de não orgânicos?
Ter uma alimentação 100% orgânica hoje é muito difícil, mas há maneiras de você reduzir bem o consumo de não orgânicos, estando atento a pequenos detalhes do dia a dia. Hoje, existem os selos orgânicos que identificam esses alimentos de acordo com a regulamentação e te dão essa garantia. “Temos alguns alimentos com maior exposição e concentração de agrotóxicos. Se começarmos por eles, já é um ótimo primeiro passo”, enfatiza a nutricionista Luisa Macedo Nunes.
São eles, nesta ordem:
– Pimentão
– Morango
– Pepino
– Alface
– Cenoura
– Abacaxi
– Beterraba
– Couve
– Mamão
– Tomate
– Laranja

Dicas de higienização
Outra indicação de Luisa é fazer uma boa higienização daquilo que é comprado. Em caso de folhas de alface, evitar consumir as que estão por fora, e tentar tirar a casca da maioria dos alimentos. “Isso não vai evitar, mas pode amenizar de alguma forma. Nosso órgão de saúde, ANVISA, ressalta a importância da água corrente na lavagem desses alimentos. Para garantir uma melhor higienização, deixá-los durante 15 minutos no hipoclorito, água oxigenada, bicarbonato ou vinagre de álcool, e lavá-los novamente com água corrente”, completa.

A última, e não menos importante dica da nutricionista, é levar em consideração a sazonalidade dos alimentos. “Não é sempre que teremos os mesmos alimentos. Precisamos respeitar a sazonalidade e comermos de forma consciente. Se tem um morango todo bonito, em uma época que geralmente não é a dele, será que é um bom alimento? Será que respeitaram esse solo?”, ressalta.

Onde encontrar?
O CNN Viagem & Gastronomia separou dicas de lugares em São Paulo que oferecem produtos orgânicos. Confira:

Instituto Chão
O local está no coração da Vila Madalena, de frente para o Beco do Batman. O Instituto Chão é uma associação sem fins lucrativos que comercializa uma grande variedade de orgânicos repassados ao consumidor pelo mesmo preço de custo que foi comprado pelo produtor. Ou seja, frutas, legumes e outros produtos podem ser adquiridos com preços muito mais baixos do que os praticados em supermercados. A ideia é que o local seja um espaço de reflexão além da feira. Ele recebe diversos eventos que promovem a discussão sobre alimentação, economia e sustentabilidade.
R. Harmonia, 123 – Vila Madalena/ Tel.: (11) 3819-4205

Instituto Feira Livre
É uma associação sem fins lucrativos com a ideia de dar acesso a produtos orgânicos de maneira sustentável e sem agrotóxicos. A proposta do Instituto Feira Livre é conectar o produtor com o consumidor estabelecendo uma relação comercial igualitária entre todos os agentes do processo. O local tem um espaço usado como café e que também serve almoço com ingredientes naturais. Também conta com uma espécie de “xepa” onde os alimentos mais maduros são vendidos por um preço simbólico de R$1 por kg ou unidade.
Rua Major Sertório, 229 – República/ Tel.: (11) 3237-0721

Raíz

Raízs conecta o pequeno produtor de orgânicos à mesa dos grandes centros urbanos (Foto: reprodução Instagram / Raízs)
De acordo com o site, o objetivo da Raízs é conectar o pequeno produtor de orgânicos à mesa dos grandes centros urbanos. A empresa trabalha com mais de 800 produtores, todos certificados e auditados pelo IBD – a maior certificadora de orgânicos da América Latina – além de parcerias com cooperativas desde o Sul do País até a Amazônia.

O propósito está em valorizar e empoderar o agricultor familiar, oferecendo todo o suporte que ele precisa, desde o acompanhamento técnico do plantio e colheita até a comercialização dos seus itens por um preço justo. A colheita só é feita a partir da confirmação da compra do cliente, o que garante frescor, qualidade e evita desperdício.

As vendas são feitas pela internet e o consumidor pode escolher compras avulsas ou então assinatura de cestas com entregas semanais de produtos selecionados. É possível comprar frutas, verduras e legumes, além de temperos, ovos, pães, manteiga, iogurte, queijos, café, frango, vinho e até cosméticos.

Serviço online de entregas/ Tel.: (11) 3034-6455/ WhatsApp: (11) 995305461

Site dos Orgânicos
O Site dos Orgânicos já atua no mercado orgânico há 19 anos e se estabeleceu com o delivery em mais de 200 bairros de São Paulo. A compra pode ser feita pelo próprio site ou pelo WhatsApp (11) 94822-1043. No site, você preenche o cadastro, escolhe o seu pedido que será selecionado pelo estabelecimento e entregue na sua casa. Além de compras avulsas, também é possível fazer assinaturas.

Serviço online de entregas/ WhatsApp: (11) 94822-1043

Armazem do Campo
Foi criado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com o objetivo de comercializar alimentos com origem na reforma agrária popular. A loja comercializa mais de 500 produtos vindos de assentamentos de reforma agrária, parceiros da agricultura familiar e produtores de frutas, verduras e legumes orgânicas. É possível fazer a compra na loja física ou virtual.

Al. Eduardo Prado, 499 – Campos Elíseos/Tel.: (11) 3333-0652/WhatsApp: (11) 96410-5084 ou (11)93054-9789