MENSAGEM PARA 2022
NOS ÚLTIMOS 40 ANOS A AGRICULTURA PASSOU POR IMPORTANTES MUDANÇAS, O ORGÂNICO SEMPRE ESTEVE NA VANGUARDA DAS MUDANÇAS, DESDE O INÍCIO.
“Existe o risco que você não pode jamais correr, e existe o risco que você não pode deixar de correr.”
Peter Drucker
Botucatu, 16 de abril de 2022
Nos últimos 40 anos, a agropecuária passou por várias e profundas transformações. Em parte, por questão de autocrítica, em busca de melhorias por conta própria, e em parte – mais fortemente – por pressão do consumidor.
Historicamente (1), nos processos de desenvolvimento e em novas revoluções de transformação de tecnologias, a adesão ao processo pela esmagadora maioria dos produtores ocorre quando há uma real e convincente tecnologia que a maioria adota. Ainda não podemos dizer isso sobre a agricultura orgânica, embora haja indícios fortes de tendências de expansão em outros países, mas não no Brasil. Vejam hoje os três países com maior número de produtores orgânicos certificados cadastrados e a estimativa de mercado global abaixo. Porém, no Brasil, ainda não atingimos nem 1% dos produtores brasileiros (temos hoje aproximadamente 26.000 produtores, sendo que 1% equivaleria a 55.000 produtores). Em termos de área, mesmo estimando um total de 1,5 milhão de hectares (estimados, pois não temos dados oficiais disponíveis), temos no Brasil cerca de 20% de área dedicada à agropecuária. A agricultura orgânica no Brasil ocuparia assim 0,88 % da superfície cultivada.
Do ponto de vista monetário, estima-se, grosso modo, o faturamento com orgânicos de 1 bilhão de dólares. Comparando-se com o faturado mundialmente com orgânicos, U$ 132 bi (2), novamente temos que o Brasil participa com 0,75% do movimento global de mercados orgânicos. Comparando-se com o total do agribusines brasileiro (3), o orgânico fatura 0,83%. (4). Há o desejo, sim, em torno da agricultura sustentável ou regenerativa – mas a adesão pela maioria ainda não é a realidade. Ainda há muito o que fazer pelo orgânico!
Contudo, com base nos fatos relatados a seguir, podemos dizer que a agricultura orgânica sempre sinalizou, indicou, os caminhos de transformação da agricultura da atualidade, servindo como inspiração e crítica ao sistema atual. Temos, porém, que admitir com humildade que tecnologicamente ainda há muito que que fazer no orgânico!
Uma das principais técnicas defendidas pelo setor orgânico foi o controle biológico, natural ou artificial, promovendo ambientes favoráveis aos predadores naturais de pragas ou com a sua introdução nas culturas comerciais. Hoje, o controle biológico representa a nova revolução da agricultura mundial, ajudando de forma eficaz e contundente a redução no uso de agrotóxicos.
Além disso, com relação aos insetos, sempre se destacou a importância de termos este organismo bem desenvolvido nas fazendas, tanto o de inimigos naturais como o das abelhas – tão importantes para a polinização e para a produtividade das lavouras, que dependem de polinização cruzada. Sem o uso de agrotóxicos, garante-se a máxima atividade e atuação desses insetos. Nos dias de hoje, a mortalidade das abelhas e meliponídeos (fato que já havia sido previsto pelos pioneiros da agricultura orgânica) é tema central de discussão sobre o futuro da agricultura, lembrando que na China já há regiões em que a polinização em frutíferas é humana e não mais realizada por insetos…pois eles já não existem mais naqueles ambientes de extremo uso de agrotóxicos.
No cenário macro, a agricultura orgânica conserva e incrementa ambientes biodiversos como matas, cercas vivas, proteção das aguadas e outros.
Muitos países não possuíam ou ainda não possuem uma rigorosa lei ambiental como a brasileira. A introdução de áreas de recuperação ambiental em porcentagens ao redor de 10% da área de produção foi algo que ocorreu mundialmente e trouxe vantagens claras aos produtores orgânicos. Já temos no Brasil exemplos de produção orgânica que exploram sua biodiversidade, inclusive nos campos de lavoura, para reduzir a população de insetos “praga”.
Por causa desses fatores e de outros ainda não mencionados e que poderiam ser adicionados a esta lista, tenho a tranquilidade e a certeza de que a agricultura orgânica é uma das inspirações do caminho certo na atualidade, é desejada pelos consumidores e continuará provocando impacto na sociedade. Os itens acima fazem parte do desenvolvimento contínuo, necessário à agropecuária mundial como um todo.
Em relação à agricultura orgânica, muitos são os desafios existentes, como a criação de um sistema de plantio direto com insumos e métodos aprovados para este sistema.
“Espera-se que o tamanho do mercado global de alimentos orgânicos cresça em 2021 para 2022 a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR- taxa de crescimento anual composto) de 14,0%. (Business Research Company). Como podemos participar e crescer com esse mercado? Seu desenvolvimento está apenas começando. É possível entender o mundo orgânico através de sua segmentação e tendências. “… Aves e Laticínios, Frutas e Legumes Orgânicos, Pão e Padaria Orgânicos, Bebidas Orgânicas, Alimentos Orgânicos Processados, Outros” (Business Research Company) é uma maneira de entender isso. Aves no Brasil, por exemplo, é um dos segmentos de crescimento mais rápido em orgânicos. O consumo de ovos orgânicos explodiu durante a pandemia, a busca por grãos para alimentar as galinhas poedeiras também. Todas as tendencias de consumo e políticas lançadas em países desenvolvidos para promoção orgânica impactam diretamente os países onde os programas são lançados, mas também o mundo inteiro. Por exemplo: ao promover grãos e laticínios orgânicos na Europa (que quer 25% de área cultivada coberta com orgânicos até 2030- https://www.foodnavigator.com/Article/2021/04/12/Europe-s-difficult-target-of-25-organic-by-2030-Is-the-Organic-Action-Plan-doing-enough ), automaticamente a demanda nos países tropicais por açúcar, café e cacau também aumenta, pois os laticínios e grãos serão consumidos acrescentando também os produtos tropicais. O mesmo vale para políticas regionais. Ao estimular-se um produto, automaticamente outros são impactados. Tudo está interligado – isso o sistema de produção orgânica já indicava desde o início. Deve-se investigar e buscar as pesquisas de mercado.
A certificação orgânica e a sustentável apoiam o caminhar nesse desenvolvimento, com critérios claros, avaliados e mantidos para produtores e processadores de produtos, com normas decididas após consultas a operadores e às partes interessadas.
O cumprimento da missão do QIMA IBD torna-se mais importante que nunca, para ajudar o planeta na busca da sustentabilidade. Podemos fazer a nossa parte!
Alexandre Harkaly
CEO
QIMA IBD