Notícias

Consultas

02 dez 2019

Café orgânico e sustentável pelo Brasil

A segunda bebida de maior consumo no mundo pode ser menos prejudicial ao meio ambiente e mais saborosa

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café orgânico. De 2006 a 2016, o país produziu entre 40 e 50 milhões de sacas das variedades arábica e robusta por ano. Mas a qualidade do café consumido no país ainda é muito baixa. Dentre os produtores mais preocupados com sua qualidade, muitos estão dentro do mercado de orgânicos.

A Federação Internacional de Movimentos Agrícolas Orgânicos (IFOAM) define a agricultura orgânica como “todos os sistemas agrícolas que promovem a produção ambiental, social e economicamente segura de alimentos e fibras”.

Logo, o café orgânico é aquele cultivado sem o uso de fertilizantes sintéticos ou pesticidas. Em uma terra que teve tempo suficiente para se desintoxicar, sem o auxílio de organismos geneticamente modificados.

A história

O mercado de café orgânico foi construído desde o final da década de 80 e início de 90. Nessa época, a produção de café orgânico era incipiente, assim como as suas certificações.

O crescimento se deu por conta de uma crise do café convencional, em 2000, quando muitos produtores migraram para o sistema orgânico, visto o potencial de retorno financeiro do produto. O mercado, porém, teve altos e baixos. Os preços, ditados pelos compradores, quase sempre não atendiam aos anseios dos produtores. A população não estava preparada para pagar um preço tão alto pelo café.

Entre 2002 e 2004, o Brasil chegou a produzir até 300 mil sacas de café orgânico por ano, segundo a Associação Café Orgânico Brasileiro. No entanto, os produtores, em sua maioria, não possuíam bons conhecimentos sobre as práticas orgânicas de manejo do solo, pragas e doenças. Também não realizavam investimento em qualidade, pós-colheita ou mesmo orientação para melhorar o produto.

Como consequência, a produtividade das lavouras reduziu muito e surgiram dificuldades para vender os cafés de qualidade média. Com o fim da crise e a estabilidade no preço do café convencional, muitos cafeeiros abandonaram suas lavouras orgânicas e voltaram ao sistema convencional.

Aqueles que continuaram firmes no orgânico foram os que possuíam boas técnicas de produção, ótima qualidade de bebida, fortes princípios ecológicos, mercado bastante remunerador e estável. Também tinham boa produtividade e custo razoáveis.


O Brasil ainda não possui dados estatísticos oficiais sobre a produção de café orgânico por falta de regulamentação. (Imagem: Freepik)

Benefícios

A Lei 10.831 – “Lei dos Orgânicos” – determina que a produção orgânica certificada não utilize agrotóxicos e fertilizantes químicos adotados na produção convencional brasileira. A restrição busca evitar o lançamento de produtos químicos em excesso no solo, a contaminação dos produtores agrícolas e possibilita ao consumidor estar protegido contra resíduos prejudiciais à saúde.

Os produtores de café convencional normalmente utilizam agrotóxico e adubos químicos, o que pode prejudicar o meio ambiente. Podem contaminar o solo, o lençol freático e o ar de forma incontrolável. Por precaução, para evitar riscos com ataque de doenças e pragas, é comum o agricultor utilizar estes produtos sem acompanhamento técnico.

Os cafés orgânicos do Brasil

A produção orgânica nunca chegou perto da do café convencional. Ainda hoje, o brasileiro não pretende pagar muito pelo café de qualidade. O critério para este produto é a doçura, a acidez, os sabores, o corpo da bebida. A apreciação e conhecimento desses critérios ainda é baixa entre a maioria da população, mesmo o café sendo uma bebida presente cotidianamente em suas mesas. A solução acaba sendo a exportação, visto a maior demanda fora do país.

O IBD conversou com três empresas representantes do ramo para entender suas dificuldades e perspectivas futuras.

Fazenda Camocim

 Henrique Sloper, da Fazenda Camocim, é um dos primeiros clientes certificados IBD e acompanha há 20 anos o mercado. Sua linha de produtos possui sacas de café certificado orgânico e Demeter (biodinâmico).

Henrique Sloper aponta pelo menos sete dificuldades no mercado de cafés orgânicos. Para ele, o principal é o reconhecimento – menos de 7% dos consumidores sabem realmente o significado do orgânico. A burocracia, o alto custo de produção e manutenção, a logística, falta de fiscalização e comercialização também acabam não contribuindo. Há altas cargas fiscais e muitos produtos se denominam orgânicos e não possuem selos orgânicos oficiais, enganando o consumidor.


A Fazenda é conhecida por produzir o Café do Jacu, único no mundo em seu sabor indescritível e com elevado grau de pureza por ser cultivado sem qualquer interferência do homem (Imagem: divulgação)

A Fazenda Camocim também conta com um projeto semelhante nas montanhas do Espírito Santo, o Café Bio-ES. A empresa fornece informações para produtores aderirem à produção orgânica com qualidade e capacitação. “Quem entra no mundo orgânico não sai. Nunca vi ninguém que entrou desistir, apenas não tentar”, afirma Henrique Sloper.

 Fazenda Ambiental Fortaleza

Em 2001 a fazenda passou pelas transformações do método tradicional para o orgânico com a missão de ser um modelo de fazenda sustentável social, ecológica e economicamente. O intuito era poder semear o conceito de Sustentabilidade para o indivíduo, a família, a empresa e para a sociedade como um todo.

Marcos Croce, da Fazenda Ambiental Fortaleza, em Mococa- SP, também pontua 5 desafios do café orgânico no Brasil.

1- Knowhow: informações e pesquisas científicas no meio orgânico são raras. A produção é pensada de uma maneira totalmente diferente da convencional. O produtor tem de fazer um caminho próprio e descobrir o melhor sistema orgânico para a sua realidade. Isso leva tempo e tem custo. Raros são os produtores que conseguem acertar na primeira tentativa;

2- Produtividade: são necessários alguns anos de investimento para a terra e o meio ambiente estarem prontos para o cultivo orgânico – e a produção cai muito nesse tempo, desestimulando o produtor;

3- Manutenção de alto custo: a produção orgânica exige que as ações sejam tomadas pontualmente, tirando o mato com a enxada, interferindo apenas onde é necessário. Isso encarece a manutenção e, consequentemente, o valor do produto;

4- Menor escala: a diversificação necessária à uma plantação orgânica inclui ter de produzir em uma menor escala, o que gera mais custos e menos lucro, que tem de ser compensado na comercialização;

5- Falta de mercado: o consumidor em geral ainda não têm informações e conscientização sobre os motivos de investir mais em produtos orgânicos – e acabam não pagando o preço.


A Fazenda Ambiental Fortaleza tem sido uma plantação de café desde 1850. A partir de 2002 os donos têm transformado a fazenda em um modelo sustentável de agricultura orgânica.(Imagem: divulgação)

Para Croce, na plantação convencional, quanto mais se mata, mais é colhido. Tudo de maneira rápida e em alta quantidade, pois o consumo do café é grande no mundo inteiro. Mas a produção orgânica busca a agricultura da vida, na qual os problemas são resolvidos utilizando tudo o que o solo e a natureza têm a oferecer.

Café Korin

Segundo Valter Watanabe, coordenador comercial do Café Orgânico Korin, não há dados exatos sobre a produção de café orgânico no Brasil, uma vez que não existe uma classificação fiscal específica para o segmento. “Os dados são estimados mediante projeção das informações das empresas comerciais certificadas orgânicas”, explica.


O coordenador comercial da Korin, Valter Watanabe, conta que a empresa tem planos de iniciar exportação futuramente. (Imagem: Divulgação/Korin)

O processo do Café Orgânico Korin começa na seleção de fazendas sustentáveis de Minas Gerais, onde o manejo agrícola respeita o meio ambiente e o agricultor. Isso reduz a aplicação de insumos poluidores, como os agrotóxicos, gerando sustentabilidade econômica, social e ambiental.

O cuidadoso processo industrial utilizado na torra média e no empacotamento garante um café com aroma frutado, acidez média, sabor intenso e prolongado. Empresas independentes orientam os produtores engajados com os benefícios de produzir cafés de alta qualidade com sustentabilidade.

Para Valter Watanabe, o consumo de produtos orgânicos e naturais, de propriedades certificadas, agroflorestais, agricultura familiar, entre outros, está crescendo justamente em função da demanda cada vez maior do consumidor. “Os excessos da agricultura convencional estão chamando atenção dos consumidores para métodos alternativos. O crescimento do mercado indica ser sustentável porque está embasado em informação, em conhecimento. Embora não exista estatística que garanta a dimensão do crescimento, é claro que as grandes empresas e redes varejistas estão entrando no mercado, aumentando a oferta e atingindo consumidores que não tinham acesso até agora”, explica.

Palavra do IBD

A tendência para o café orgânico é de crescimento. Atualmente, a estimativa do mercado orgânico é de crescimento de 15 a 20% ao ano. Tanto Marcos Croce quanto Henrique Sloper concordam que o conhecimento sobre os benefícios do produto orgânico pelo consumidor é o fator determinante para seu crescimento. Com a conscientização, as pessoas buscam investir mais em sua alimentação – e isso já está ocorrendo com a população jovem.

É evidente em conversas com o setor, que os consumidores buscam novas experiências, vivências e também certezas na hora de comprar o café. O consumidor não quer mais somente um café gostoso e quente, ele quer uma experiência, um sabor especial, que o conecte a algo ou algum lugar. Também quer ter a certeza de que ele, ao comprar, apoie diretamente um produtor que defenda o meio ambiente, seja socialmente justo e tenha uma operação saudável e viável. A experiência com o café tem de ser completa!

O IBD contribui com o setor na medida em que coloca a disposição os seguintes selos. Assim, de uma forma ou de outra, poderão ajudar o cafeicultor a seguir seu caminho na busca por qualidade e reconhecimento.

Orgânicos:

Não Orgânicos:

O IBD está a disposição para atender produtores, torrefadores, comercializadoras e traders. Fazemos visitas a organizações e participamos de eventos. Não deixe de participar do treinamento organizado para cafeicultores. Não perca a oportunidade de conhecer mais sobre cafés orgânicos.

Uma coisa é certa, as pessoas tomam café. Seja por seu caráter reconfortante, aquela xícara numa reunião entre amigos, de negócios ou entre família. Café faz bem. E é ainda melhor se você souber de onde ele vem.

Serviço

Fazenda Ambiental Fortaleza – Mococa-SP

Contato: (19) 996 37 4500

Email: info@fafcoffees.com

Site: www.fafbrazil.com/

Fazenda Camocim

Contato: (27) 3248-1072 ou 3248-1154

WhatsApp: (21) 98665-3652

Site: www.cafecamocim.com.br/

Café Korin

Contato: (11) 3728-4100

Email: sac@korin.com.br

Site: www.korin.com.br/

IBD Certificações

Contato: (14) 3811-9800

Site: www.ibd.com.br/